24/02/2011

J’accuse!


(em memória de uma injustiça)

Abrupta e irrecorrivelmente fomos retirados do sonho inda despertos. Durante a noite, acordados que estávamos pela alegria reinante em nossa ilha da memorabilia incrustada bem no meio do resto do mundo, interromperam nosso idílio. Acabaram com a fantasia às vésperas dos festejos de Momo. Nós, os inocentes, pois que sempre o somos, acreditamos nos antigos postulantes e hoje donos do poder. Nós, os tais que somente queríamos sorrir e beber. Nós, os “anormais” que apenas desejamos com o cotidiano do mundo romper e ali no Churrasquinho do Valdeci enternecer. Enternecidos e abandonados. E por essa perda eu acuso os donos do poder!

Pois bem. Valdeci, ou Antonio Vieira da Silva, empregador de seis pessoas, entre as quais figuras marcantes como o Chaguinha, o Juca e o Aílton, sem esquecer do Adelson, desde 2000 ocupando um espaço na Praça do cebolão, ontem à noite, dia 23 de fevereiro, foi instado pela AGEFIS, Agência Fiscalizadora do GDF, a encerrar suas atividades. Eu, PH, o JB e o Reisson, os integrantes da Diretoria na hora presentes, testemunhamos o ato de força. Vimos a chegada da viatura, suas luzes berrantes ecoando a época dos militares, os distintivos dos fiscais reverberando o golpe oficial circunscrito aos limites da lei. Da lei, senhoras e senhores. A mesma lei que nos outorga o direito de ir e vir. A mesma lei que diz que todo homem possui o direito à decência da vida. A mesma lei que é nada mais que um contrato social. E os donos do poder são os donos dessa mesma lei? São? Serão? E por isso eu os acuso!

Eu acuso os donos do poder de hoje, pois ontem, e não estou sozinho a recordar, eles estiveram conosco. Sim, estiveram conosco no Churrasquinho. Sim, cumprimentaram-nos. Sim, beberam das mesmas cervejas. Sim, confraternizaram. E, claro, pediram votos. Pediram votos, senhores e senhoras. Ou seja, eles nada mais são do que nossos representantes. Será? Nesta nossa sociedade de tantas lógicas invertidas, onde parecer toma o lugar de ser, a representação democrática cada vez mais se afasta de sua função. Os homens engalanam-se no poder. E crêem ser superiores, inalcançáveis, portadores de uma liturgia que os diferencia. Eles saíram da planície. São semideuses. Mas, ontem, incrível e recentemente, eles freqüentaram o que agora taxam de ilegal. E por isso, eu os acuso!

Eu os acuso pela estridência do seu ato, pela truculência de sua “amnésia”, pela violência do corte em nossa noite. E, mais, pela indecência do desrespeito ao local físico da incidência, pois que a Praça do Cebolão é espaço histórico e referência de lutas populares, de conflagrações democráticas, de reuniões políticas, de multidões em aspirações legítimas. E de alegrias fugazes tais como a celebração carnavalesca. Ali, na Praça do Cebolão, convivem em perfeita harmonia bancários, banqueiros, jornalistas, jornaleiros, esqueitistas, esquerdistas, direitistas, sindicalistas, homens, mulheres, publicitários, “incendiários”, sonhadores, pragmáticos, operários, seguranças, falenas, músicos, estetas, filósofos, poetas, enfim, uma gama de representantes da comovente variedade humana. É disso que nos acusam?

Por essa permanência, por essa premência eu retribuo e acuso os donos do poder! Essa a nossa luta, senhoras e senhores, que o sonho, por vezes, se crava na terra. E quem nisso acredita, não erra. A revolução nunca foi mais tão urgente. E reside uma rara beleza na insurgência, já que toma-se às mãos as estações do tempo. Por isso, por esse advento, os donos do poder eu acuso. E não me arrependo!

PH

24/02/11

LUTO - Cuspindo no prato que comeu.


A AGEFIS, (Agência de Fiscalização do Distrito Federal), na operação em que estão retirando os ambulantes irregulares do centro de Brasília, ontem retiraram o Churraquinho do Bigode, ali da Marquise.

Sem pensar em nenhum tipo de critério de valores, se é certo ou errado, acho que poderiam primeiramente oferecer alguma forma para que essas pessoas que estão irregulares, se regularizem, assim como sempre é prometido durante as campanhas eleitorais.

O Sr. Magela, que já visitou o Churrasquinho, durante sua campanha eleitoreira para o senado, assim como o nosso atual Governador Agnelo, ambos estiveram ali prometendo regularizar todos os trabalhadores informais. É o típico sintoma do cuspir no prato que comeu. Desnecessário, simplesmente desnecessário. Com a ação, vários funcionários do Banco e entorno, estão órfãos e esperando alguma solução para o problema. Agrava ainda mais a situação, pois o churrasquinho do Bigode está ali a mais de 10 anos e de certa forma, contribuiu muito para a arrecadação de votos para vários políticos da cidade, e dentre eles, nossos atuais governantes.

JB.

21/02/2011

Comportamento


Um estudo maluco do National Child Development Study, no Reino Unido e e outro do National Longitudinal Study of Adolescent Health, no Estados Unidos comparou a inteligência de adultos e quantidade de álcool ingerida por eles e constatou um dado curioso: as pessoas mais inteligentes bebem mais.

Durante sete anos os pesquisadores norte-americanos monitoraram a inteligência de crianças e adolescentes até 16 anos, e na Inglaterra até os 40 anos. As pessoas foram classificadas de acordo com suas capacidades cognitivas, em 5 categorias, de “muito burro” a “muito esperto” e o consumo de bebidas alcoólicas por essas pessoas foi medido também.

Ao final da pesquisa eles perceberam que as crianças classificadas como mais espertas foram as que mais beberam. Cerca de oito décimos a mais que as classificadas como “muito burras”. Os pesquisadores não apontam razões específicas para o resultado e seguem pesquisando se existe uma relação entre ambas as coisas, bebedeira e inteligência.

O curioso é que até hoje a ciência inclusive apontava o contrário, que beber demais emburrece, porque queima neurônios. Na dúvida, consuma com moderação.

FERNANDA SCARIOT

Fonte do texto: http://mauren.terra.com.br/noticias/comportamento/os-inteligentes-bebem-mais/

DESABAFO CARNAVALESCO

É sexta-feira. Restam os últimos dez minutos de uma semana exaustiva de trabalho. Recebo uma mensagem de texto: “Chagas”. Imediatamente, tudo estava transformado. Não retornaria para casa com aquele vazio de todos os outros dias. Havia algo para fazer que iria me ajudar no esquecimento de expedientes tão repetitivos e maçantes. Respondo prontamente: “Ok”. E a missão se inicia. Não se pode pensar muito: é dever. Peguei a via mais rápida e atravessei com cautela e determinação uma parte da cidade, para enfim chegar ao lugar onde encontraria meus queridos.

Porém desta vez, ao invés da alegria de sempre, fui surpreendida pela decepção que assolava aos que se auto-intitulam: Diretoria. Até eu, que não ouso tal nomenclatura, me senti contagiada por aquele sentimento de frustração.
O reduto de meus filósofos-etílicos fora invadido por pessoas que em absolutamente nada, se assemelham aos que ali freqüentam. Somente após quinze minutos percorridos, pude encontrar em meio àqueles inúmeros desconhecidos, um dos meus queridos “diretores”. E de súbito me veio a frase, a única que habitava meu pensamento: “Joãozinho, que porra é essa???”.

Perdoem-me pela expressão chula, mas era exatamente o que expressava meu sentimento quando percebi que o Churrasquinho do Bigode havia se transformado num baile de Carnaval.

Rei Momo, mulatas, pandeiros, tamborins e surdos, estava tudo ali, com direito a palco, iluminação e gente, muita gente. Em meio a esse cenário, eu e JB nos encontrávamos renegados a um pequeno espaço de dois metros quadrados, praticamente em cima daquele quiosque que meus queridos chamam, carinhosamente, de banheiro.
Não havia espaço para nós que sempre tivemos nossa mesa VIP! As nossas cadeiras cativas, sob a idolatrada Marquise, eram disputadas por uns que certamente jamais retornarão. Fomos traídos.

Nossa melancolia, dramática, tentava se expressar acima dos 150 decibéis do samba gritado. Queríamos nos manifestar, dizer que estávamos ali, mas nem Bigode, nem Adelson e muito menos Chaguinha nos dava atenção. A clientela carnavalesca estava se deliciando de nossas cervejas e de nossos churrasquinhos! Tratava-se de um insulto.
Mas o que fazer? Não nos cabe mudar o mundo. A Marquise não suportaria nos ver fazer algo que não fossem nossas reflexões noturnas regadas a cevada. Porém, neste dia, ela não nos acolheu como de costume. E após algumas rápidas e frágeis tentativas frustradas de estabelecer nossas conversas, me dei por vencida.

Pela primeira vez, deixei o lugar antes do Bigode me expulsar recolhendo as cadeiras. Fui embora sem a despedida afetuosa de todos. Enquanto caminhava até o carro, decepcionada, busquei na memória qualquer lugar que, naquele momento, pudesse substituir o “Chagas”. Mas, sem outra opção, fui para casa.

RAQUEL.

11/02/2011

Os amanuenses e a estação orbital

(um texto caótico)

Prólogo

E como tudo o mais carecesse de sentido, o Emerson inventou um que apaziguasse sua pervagante alma e enlevasse nossa anterior calma. Chegou apressado, algo atrasado,
largando celular e chave sobre a mesa e buscando em um outro invólucro parecido com o do telefone móvel alguma coisa que não sabíamos, ainda, o que era. De cabelos molhados, cuidadosamente repartidos ao meio, franjas para cada lado e recendendo a perfume, como que formalmente preparado para um evento, avançou para um pouco além de nossa ilha, mas ao alcance de uma conversa: “Que horas são? Às oito e vinte e cinco ela vai passar.

I

Que horas são?” E mirava para o espaço de entre os prédios atrás de nós, à esquerda de quem chega ao leal e valeroso Churras do Valdeco. “Que horas são? Alguém tem horas? Ela vai passar às oito e vinte e cinco! O sul é para que lugar?” Nesse instante, recordei-me do coelho atrasado de Alice no País das Maravilhas. “Que horas são?” Ele encarnava o próprio coelho no intróito do caos, do absurdo. E eu, o JB e o Marcelo éramos o Chapeleiro Maluco e sua trupe, apenas que trocando o chá por botijas de cervezas, claro. Sim, nossa anormalidade cotidiana se caracterizava. Tornávamo-nos personagens de nossa própria fauna. Enfim, apocalípticos e integrados.
“Que horas são? O sul é para lá, não é?” E apontava de novo para aquele recorte de céu ladeado por prédios. “Às oito e vinte e cinco ela vai passar!” E nós sem nada entendermos. E o Emerson indo e vindo, circundando a mesa, torcendo nossos pescoços com todo o seu alvoroço. “É uma mulher?” Perguntou o Marcelo. “Quem é que vai chegar?” indagou o JB. “É o ET? Cuidado com o dedo, Emerson”, adverti eu, sempre preocupado com a saúde alheia, inda mais de um amigo. “O sul é para lá, não é?” E, então, desvelou o objeto da caixinha preta: uma bússola! Sim, o antigo instrumento de localização. E apontou-a: “Ah, é! O sul é para lá, mesmo!” jactou-se. “Mas, afinal, o que é que é que vai chegar?”, inquiriu-me o Marcelo que devolvi-lhe a mesma investigação. Nesse instante, o JB levanta-se e põe-se ao lado do Emerson, ambos de costas para a mesa, olhos virados ao céu como em ancestral indagação filosófica. E o Marcelo busca a bússola no seu Iphone. E eu peço outra cerveja.

II

De repente, um ponto luminoso na abóbada do final da tarde. Um ponto veloz, distante,
cortando o eixo imaginário estabelecido entre as construções humanas do Setor Bancário Sul. “O que é aquilo?”, perguntamos. E o Emerson, com o sorriso dos que conquistaram o seu objetivo: “É a estação orbital.” E nós: “Ah...” E o JB: “Ela está iluminada!” E o Emerson: “São as placas solares refletindo a luz do sol”. E nós: “Ah...” E o silêncio imperou e todos os nossos olhares seguiram-na ao longo do SBS como se fosse uma explicação, uma esperança, um alento. Foram poucos minutos, mas nossos olhares altos recobraram uma falta. O engenho humano nos encantava. “Amanhã, nesse mesmo horário, ela vai passar de novo”, explicou-nos o Emerson. “Aí, pede para eles descerem e tomarem uma com a gente”, disse eu e concordou o Marcelo. “É mesmo”, atestou o JB. “Ela está na órbita da Terra”, seguiu o Emerson. “Seriam os deuses astronautas?”, pensei eu sem falar, que era uma frase pronta e uma possibilidade justa. Pedimos mais cervejas.

Epílogo

Depois da astronave, o que nos restava? O tudo ou o nada? O caos que habita esta nossa aparente e funcional estada? Reunidos em torno da mesa, todas essas questões desembocavam num ponto: as cervejas. E bebíamos. E bebemos. E o churras do Valdeco era a nossa estação, o nosso foguete com o qual atingíamos e atingimos o universo.
Tripulantes, passageiros, companheiros de jornadas sem temermos invernos. Sob a marquise estamos embarcados, velozes partimos para as fronteiras mais variadas, algumas, aliás, jamais confrontadas. Então, o Caíque chegou e com seus ditos filosofais e suas explicações pontuais voltei à Alice e recordei o Gato de Cheshire. Estamos escrevendo o livro desta vida. E, personagens, nem notamos. E o caos, o caos pode, sim, ser uma saída.

O caos não é bagunça, é liberdade. Talvez os deuses tenham percebido isso e fundado as cidades. Em ordem e disciplina. Quais as certezas? Por enquanto, as das cervejas.

11/02/11

PH

A verdade está lá fora, tomando uma na Marquise.

Estranhos desaparecimentos, avistamentos de objetos voadores, suicídios inexplicáveis, a presença de seres sinistros, tudo isso faz parte dos mistérios que cercam a Marquise da Galeria dos Estados. Dizem que, assim como outros sítios megalíticos, ela não foi construída, mas colocada propositalmente por seres extraterrenos, isso explicaria a atitude do Emerson, em uma noite dessas, com um ar misterioso, bem na nossa frente, eu, PH e Marcelo, e de uma bússola na mão e o olhar para as estrelas, buscando a aparição de algo enigmático no espaço, a estação espacial ou algo ligado com o incidente de Roswell? Falam por ai que esses “deuses astronautas”, um dia voltarão para buscar o que eles deixaram. Outros divagam que existem evidências, de que mesmo antes da frota de Cabral aparecer pelas terras Brasilis, ela já estava presente no coração deste planalto central. Sua construção datata pelo carbono-14, mostra que tem idade aproximadamente entre 3.000 e 2.500 AC. Em sua estrutura, foi encontrado pedras oriundas da Inglaterra, na planície de Salisbury, do monumento de Stonehenge, e não só isso, foi percebido também resíduo de areia em sua coluna, areia essa só localizada no planalto de Gizé, nas margens do rio Nilo, no Egito, e para ser mais preciso, de dentro da pirâmide de Quéops.

Outra característica da Marquise, está relacionada com a liberação de hidrato de metano, em forma de umidade, após estudos, constatou-se que essa umidade criada pelo hidrato de metano é proveniente de águas salgadas do oceano Atlântico, em uma área localizada entre o litoral do sul da Virgínia e as ilhas da Flórida, ou seja, o Triangulo das Bermudas. Talvez isso explique os sumiços dos skatistas e de qualquer animal que ali tentam se instalar. Os mistérios não acabam ai não, houve um tempo atrás, uma misteriosa escavação bem no meio da Marquise, onde esteve fortemente cercada. Foi retirado dali, em segredo, comentam, estátuas de pedra que lembram os Moais da ilha de Páscoa, mas o governo nega ter feito ou autorizado qualquer evento desta espécie na Marquise.

JB

O violeiro (ou Humano, demasiadamente humano)


Então, foi assim. Eu, o Marcelo, o Louriva e o JB com as nobres presenças do Valdeco e do Adelson em nossa mesa. As latinhas se prodigalizando... Coisa de pagamento de aposta entre o JB e o Louriva envolvendo o clássico carioca Fluminense x Botafogo. Vitória do Louriva. Vitória do Botafogo. O Emerson e a Fernanda haviam nos abandonado momentos antes por motivos distintos. O Adelson também partiu um pouco depois. A noite seguia o seu curso de provedora das almas incautas perdidas ou desgarradas desde a manjedoura.

A luz amarelada de sob a marquise nos vestindo a todos, o volume das conversas, a generosidade do gênero humano acontecendo, o tempo em suspensão. Lá fora, apenas a cascata de carros consumindo a avenida.

Buenas, eis que de repente, nada mais que de repente, invade nossa esfera O Violeiro. E, postado no campo gravitacional de nossa mesa, imponente do alto da certeza de sua verve de menestrel, de súbito olha-nos para, logo em seguida, entoar várias e várias melodias. E tanto e com tamanho ardor que uma moça loira, alta, vinda da mesa ao lado, toma-se de comoções. Ela está francamente enlevada com aquele que empunha o violão. E ele, em uma torrente inesgotável, perfila uma sensível seleção. São músicas do cancioneiro nosso espalhado pelo país inteiro e ali declamado, naquele instante, na comunhão que somente o bar dá, essa catedral mundana, profana e profundamente humana. Esse espaço donde tudo emana e a vida, ornada e refulgida, reclama.

Como que em um transe, imediatamente estávamos em festa. O Marcelo, nosso músico profissional, guitarrista virtuose, deixou-se ao deleite do entusiasmo musical de nosso novo amigo, inclusive batucando na borda da mesa. Eu, de igual modo empolgado, tamborilava no banco plástico em que estava sentado. Louriva cantarolava algumas das músicas e o JB, em um ataque peripatético, tirava fotos e mais fotos de todos os ângulos da turma do Churrasquinho. E o Valdeco, o Valdeco, o nosso bigodudo anfitrião, inclusive dançou! E olha que não era Rock’n’roll... Depois, mais adiante, até que rolou.

Recordo-me de Almir Sater, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Legião Urbana, Clara Nunes, Ana Carolina e Seu Jorge e o indefectível Bob Dylan by Axel Rose... Humano, claro. E de tal maneira que me permiti pensar que todos nós, a partir dali, para o mesmo lugar rumamos. Um lugar postado para além da consciência prévia, distante do disfarce cotidiano, estrangeiro ao enfado que nos fustiga e causa danos. O lugar da fruição espontânea, da mais que merecida vitória em distração, próximo e sedutor aos olhos e dentro do profundo coração.

E a história já estaria completa, afora o fato de um dos guardadores de carros nos visitar e à mesa sentar e pedir o violão e umas modas suas, voz mais grave e baixa, tocar. Recobrávamos, então, a entesourada espontaneidade. Reison chegou-se. Mimi também. E, como por aqui se diz, estávamos no mesmo “trem”. E pensei que em meio a tanto mal é mais do que dever nosso resgatar o bem, humanos que somos e estamos. Demasiados, por vezes, concedo, mas comovedoramente humanos.

PH
10/02/11

03/02/2011

Papo com o Chaguinha

Mulher é bicho raro no Churrasquinho do Chaguinha. Sendo justo, tem fiéis freqüentadoras. Mas ali, bicho, o ambiente é de descontração, se quiser azarar alguém ou encontrar a sua cara metade, vai pro Calaf, porra! O ambiente tá mais para uma taverna, da idade média, em Cidade do Ceará. Homens robustos tomam cerveja, e carne, muita carne. Se desejas leite, o mais próximo que conseguimos é um de seus derivados, o queijo coalho.

Agora que mania é essa de comer cuzcuz com carne seca? Viemos de uma cultura rígida, austera e autoritária. Não pense que você sendo engraçadinho irá ser bem quisto. Aqui é lugar de macho, porra! No violão só pode tocar música brega. Os assuntos predominantes variam entre futebol e carne de caçado. Ali quem nos vigia é o Conan, respeitado Leão de Chácara. Nada escapa de seus olhos. Ali não há espaço para meias-verdades. Se a verdade dói, será lá que ela será dita. Ali não tem espaço para frescura, homem mija de pé e mulher de cócoras. Mesmos os skatistas medem sempre uma certa distância, eles vêm ligeiros em seu pseudoesporte, e voltam mais rápido ainda. Esse negócio de rodinhas não é conosco, nem de comer com pauzinhos. Nós somos velozes, porra!

Mas é claro que mesmo varonis, somos respeitadores da ordem e dos proprietários. E a propriedade ali é regida pela hora. Momento há em que os zumbis vêm cobrar seu espaço. A Kombi voa. E nós, como somos machos (porra!), voltamos no outro dia.

Como apêndice do texto, segue aí:

macho (latim masculus, -i)

s. m.
1. Qualquer animal do sexo masculino.
2. Animal proveniente do cruzamento de um equídeo com um asinino.
3. Peça que tem saliências que encaixam numa peça com reentrâncias.
4. Cada uma das pregas ou dobras contrapostas em obras de costura ou em panos.
5. Instrumento para tornar côncava a madeira.
6. Peça de aço, em forma de espiral, para abrir roscas em chapa de metal.
7. Grilhão.
8. Eiró muito grossa.
adj.
9. Que é do sexo masculino.
10. Pop. Forte, robusto, másculo, vigoroso.
11. Que tem saliências que encaixam numa peça com reentrâncias (ex.: peça macha, rosca macha).

PEDRO.

01/02/2011

Boa Noite! Marquise

Estamos no inicio do ano de 2011 e um cheiro de revolução (pólvoras, multidões inflamadas e pneus queimados) invadiu a marquise, talvez um vento oriundo de muito longe, ecoando sons lá da cidade do Cairo, no Egito, perante a explosão da revolução dos muitos contra poucos!
Por um momento sinto o gosto amargo / doce da revolução e minha necessidade por ela, quase que cerro os punhos, segurando firme minha latinha de cerveja como se fosse um grande prêmio, abafo o grito silencioso na garganta. Queria a filosofia a golpes de martelo Nietzschiano, mas esse desejo é amenizado pelo simples ato de beber, não mais prevalece depois da segunda latinha.

Talvez estivesse padecendo apenas pela falta dos companheiros de luta (os quais denominamos "A diretoria"). Ando pelas mesas, dialogo com um e outro, quase ninguém presente, só o Bigode e uns poucos por ali em cantos diferentes. Cambaleio entre mesas, quase que em uma dança ilusória. Estou bêbado e ignoro a bebedeira como qualquer bêbado que ultrapassou seus limites, o primeiro sintoma já foi sentido, já perdi a audição, a segunda etapa será esquecer que tenho casa para voltar, a terceira será que amanhã será um novo dia e esse ainda não é o último, se deus quiser ... Se deus quiser??? Tenho minhas dúvidas!
Preciso ir ao banheiro, mas o fatídico banheiro público ainda não foi inaugurado, nem sei mais ir ao mictório, me falta algo, a parede molhada, bichos escrotos em frenesi, a bebida, o franguinho, a lingüiça, bisteca, coração e o baião de dois, tudo em um único gosto acre na boca.

Por um momento, segundos apenas, em meio a tudo e todos, me vem um sentimento, um estalo, um insight filosófico, uma visão quase religiosa, de que vi a verdade, a única verdade do mundo, mas antes que eu possa interpretar tal visão, tudo escurece, como um teatro que baixa suas cortinas, quando termina a peça. Busco esse olhar novamente, só encontro o “Nada” Sartriano na presença dos companheiros, "o ser!" diante de suas cervejas.
O crepúsculo místico da marquise, que já lhe é direito adquirido ser chamada e tratada por Sra. Marquise com letra maiúscula, mãe dos ébrios, solitários, boleiros, poetas, musicos, aqueles que estão apenas de passagem, os só de ida, os “devassos, libertinos, libertários, fesceninos” (Frase do PH), ou quase uma entidade divina, “Nossa Senhora das Marquises”, (frase do Emerson) guarda segredos e se apresenta como uma doutrinadora de princípios políticos, filosóficos, religiosos, mercantilistas e até científicos, e porque não dizer, musicais, diante do grande Marcelo e o violão ao lado, que já foras alvo de difamações já editadas anteriormente. Então só me resta ir dormir ao bafio, como Diógenes o Cínico.
JB.

Devassos, libertinos, libertários, fesceninos...

(em memória dos panfletos da Revolução)

Devassos, libertinos, libertários, fesceninos somos nós! Nós, estes meninos que divagam noite após noite em um ardor divino, em um comovente escrutínio de liberdade de
sabermos o que somos, de desconhecermos para onde vamos e de saborearmos o que sorvemos e absorvemos e tomamos. Formadores de um império, somos descendentes
dos romanos. A Praça do Cebolão conquistamos e as platitudes desafiamos, sem medos, sem receios e, mesmo, sem certezas. Pois, senhoras e senhores, possuímos nossos credos, orgulhamo-nos de nossos anseios e entornamos nossas cervejas!

Somos o que somos e o que seremos adiante se descortinará. Mas, por enquanto, sentemo-nos lado a lado, em memória da legendária távola, e os banquetes de Adelson degustemos. E entre um e outro pedaço arrancado na volúpia dos dentes, consideremos, entrementes, os que se alienam na banalidade cotidiana. Um brinde a eles ergamos e deixemo-los lá, na indigência de ano após ano e na eterna promessa que a quase todos seduz e engana. Não nos interessam os tesouros mundanos, a coisa reles e mesquinha que se descortina na esquina como uma flor sozinha. Buscamos o ar excelso das cervejas do Chaguinha e dos bichos mortos do Adelson!

Devassos, libertinos, libertários, fesceninos, proletários somos nós! E não nos importamos de ficarmos sós, já que compreendemos que os príncipes são assim. A solidão da coragem nos oferta esse fim. A revolução adorna as nossas retinas, impele-nos à comunhão com o universo, seres plenos, embriagados de cervejas e de versos, o coração amalgamado. E quem nos condenará por fazermos de todo dia um evento sagrado? E de toda noite uma redenção do “leite” derramado? Quem se levantará diante de nós que não derrubemos com nossas virtudes, com nossos atos, com nossas ilicitudes, com nossos bafos? Os áulicos conspiram, mas nós, alcoólicos, o hálito da inevitável vitória respiramos!

E compreendamos, nobres convivas, que nada para além se leva desta vida. Talvez, quiçá, no último momento tenhamos a clarividência total, aquilo que devolva, enfim, um sentido a tudo. Entretanto, então, já estaremos quase mortos, e mudos. E, quem sabe, se estenda o braço na tentativa de acariciar a explicação posta no espaço, o que sempre fora óbvio e perdido no absurdo. E aí, nesse momento, depostos serão os escudos e silenciados os desesperos e reunidas as premências... Por isso, bebamos com urgência!

Devassos, libertinos, libertários, fesceninos, multitudinários somos nós, multiplicados que nos fazemos pelos copos que propagam nossa voz! Sob a marquise e por sobre os danos, nós, arrebatados que somos, no Valdeci nos encontramos. E desconhecemos depravação maior do que a violência da renúncia ao sonho. Nós, oníricos, entre os feixes da realidade nos colocamos. E por ela bebemos. Bebamos!

PH - 01/02/11