28/01/2011

Cadê Xoxó? Xoxó tá ai?

Venho, por meio desta, reclamar a ausência no púlpito de nossa Santa Igreja de Nossa Senhora das Marquises, do grão-Mestre Bispo Reverendíssimo Senhor PH, poeta das almas enfermas, justo hoje, data Santa, onde nos foi abatido um animal do casco partido (e muito bem temperado) de origem ignorada, mas muito saboroso. Ó, Senhor, o que fez nosso Guia ausentar-se de tão abençoada Quinta-Feira? Teria sido o surgimento da constelação de Serpentário, o que acarretou enormes transtornos para todos nós, filhos do carbono, do amoníaco e do zodíaco? Sacrifiquemo-nos, pois, bebendo o "sangue do Inri" posto pelo coroinha Francisco das Chagas, a preços módicos, sem fins lucratícios, apenas para cumprir nossa missão cristã de orar pelo irmão ausente e ensejar-lhe melhoras... E como Saramago disse: "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo!" Amém

Emerson. - Na noite de 27/01/2011

26/01/2011

Paz interior

Recebi essa por email. Preciso compartilhar com vocês da marquise. - JB

Li um artigo de uma conceituada revista que dizia:
“O caminho para encontrar a paz interior é terminar todas as coisas que você começou.”

Refleti bem e… Então, neste último sábado, olhei ao meu redor para ver todas as coisas que eu tinha começado e não havia acabado.

Em seguida, eu terminei… com duas caixas de Skol, o final de uma garrafa de Black Label, o resto de uma Jose Cuervo e uma garrafa aberta de Smirnoff, e uns ¾ de um garrafão de 5 litros de uma cachacinha da hora.

Você não tem idéia de como eu fiquei em paz… até flutuava…

Nós, os frustrados da marquise.


Quem sabe o que nos levou mais uma vez ali, estando a "diretoria" reunida, bebendo e cantando no melhor estilo do Deus Baco e suas Bacantes. Mas há uma diferença entres os gêneros que não posso deixar de comentar. Carregamos uma angústia nos ombros, uma frustração no andar, um vazio no olhar que talvez tarda da nossa infância.

Sim, deve ter sido algo na infância, quem sabe foi um hábito produzindo e repassado a séculos, quem sabe se fomos moldados a ferro e fogo por uma cultura indesejada e que não escolhemos. Quem sabe estamos frustrados por não ter conseguido realizar nossos sonhos juvenis de outrora, onde pensávamos que um dia seriamos jogadores de futebol, grandes ídolos do rock and roll, super-heróis imortais, pilotos de fórmula 1 ou ainda um astronauta perdido e vagando no espaço.

Nossa frustração entra em um embate com o outro gênero. Elas estão ali, sorridentes, e suas alegrias parecem transparecer exatamente que sabem a receita correta de se buscar a felicidade, e elas estão muito mais propensas a consegui-la do que nós, espécie aborrecida. Não diferentemente, elas também são frutos de ilusões e fantasias da sua infância, onde em meio a quimeras, brincavam de bonecas, as quais tratavam de ”filhinhas”, brincavam de ter uma casinha, de fazer comidinha para o maridinho fictício. Tão moldadas quanto nos, mas sem esse olhar perdido no vazio, elas parecem saber o que querem, e lutam por isso, querem exercer a função inglória da maternidade, de buscarem o lôbrego título matrimonial como forma de alimentar sua ufania, sem querer conhecer a origem advinda da sua meninez.

Nós, os frustrados de plantão, ficamos horas e horas em trabalhos que não desejamos, tendo que suportar a dor surda e aceitá-la como se fosse algo banal. E então corremos após o expediente, como crianças imprudentes que correm para o brinquedo desejado. Vamos em direção à marquise, como se ali pudéssemos ser algo perdido no tempo, e em meio a um contágio lúdicro vindo das cervejas consumidas, nos iludimos mais uma vez, até que, como diz o poeta PH, “La Revolución vingar”, e que possamos moldar nossos espíritos sedentos pelas proezas e histórias de um cavaleiro andante, na marquise, bebendo cervejas.

JB.

24/01/2011

A nobre arte

E como estivéssemos distraídos, a sexta-feira chegou. Não qualquer sexta-feira, mas “A”
sexta-feira. A inaugural. A fundadora. A primeva. O dia mais aguardado da semana invadiu
o período de férias estivais e coloriu o Valdeci com a presença massiva de todos. Inda dia os convivas foram chegando e, de tanto se comentar, ficando famoso o nosso lugar, outros mais foram ali adensar. Cheguei com sol e a mesa já estava “posta” com um representante da Diretoria, o Pablo, e os amigos Cadu, Patrícia, Arthur, Raquel, Bebel, João e Graci.

Próximos, mas em outro povoamento, estavam o JB, o Doca com a namorada e alguns amigos. Lá no fundo, para minha surpresa o Reisson retornava e, para variar, com o Pegoraro. Quando, em meu campo de visão irrompe o Emerson e, logo após, o Cabeça. Daqui a pouco, chega o Marcelo e no instante em que me volto para a churrasqueira e suas baforadas sublimando o balé do atendimento do Valdeco e do Juca e do Aílton e do Chaguinha, sim, o famoso Chaguinha, surpreendo bebendo sozinho o Caíque, nosso sábio de tantos e tantos adágios.

Estávamos de volta, a Diretoria espraiada e reunida, com outros vários mais presentes. A Madame Mimi, a Miriam, o Adelson, a Elisângela, a Marilete, o Acácio, e colegas de banco e de copo. E os proverbiais mendigos, vagabundos, prostitutas, pedintes, errantes. Tudo magicamente voltava a ser como antes. E sem nenhuma programação. E, entretanto, semelhando um chamado, cada um foi chegando, cada qual do seu canto, do seu lado, completando o nosso chão. Apenas o Louriva faltando. “Oh, semana que vem vou trazer um ‘negócinho’ aí para a gente comer”. O aviso do Adelson trouxe a confirmação: as férias acabaram. Mais um ano começa e a Diretoria cumpre com galhardia sua tarefa. De coração.

E o reencontro lembrou-me o poeta, o poetinha, Vinícius. “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro por aí”, dizia ele. Então, artistas que somos, no Valdeco nos pomos. Cada um com a sua história, com o seu apego, com o seu desapego, com a sua memória. Lembramos de músicas e d’outras tantas coisas nos esquecemos. Pelo menos, momentaneamente. Voamos, de repente. E esta aventura vivemos.

A noite chega e alguns amigos se vão. Mas, a Diretoria, a Diretoria, não. E nisso, nos colocamos a uma mesa; e o Doca traz o violão, aquele mesmo de outra ocasião, e o Marcelo se põe a tocar e o Cabeça a cantar e um e outro e, num átimo, quase todos, que as conversas laterais também são de bar. Desfilam conosco Smiths, Legião, Uns & Outros, Engenheiros, Paralamas, Red Hot, Cure, Plebe, Capital, etc. E as latinhas em um cardume cada vez maior. Cruzávamos o mar da semana rumo ao oceano de dois dias. E o nosso comandante, por um tempo, foi um mendigo-pedinte-fumante que, inspirado e delirante, postou-se no chão, entre o Cabeça e a Patrícia, e a plenos pulmões cantava com devoção.

Esse o espírito da reunião. Uma cunha nos músculos do cotidiano. Uma maneira de acalentar o “mundo mundano”. E como deuses nos portamos, ou seja, indiferentes e humanos. E por mais uma dessas vezes nos emocionamos. Pois, se pensarmos bem, o acaso dessa nossa convivência é da vida a beleza em excelência. E, se daqui a algum tempo tudo isso for passado, nenhum de nós poderá ser condenado. Não, por viver. E inocentemente, que sempre algo nos escapa, senão a maior parte. Assim, fazemos dessa nossa lida uma arte. A nobre arte do convívio. O Valdeci é a pequenina ilha de nosso exílio. “Napoleônicos?” Loucos? Sardônicos? Talvez, apenas atônitos. Atônitos com o tanto de absurdo. Assim, seguimos o curso.

*Esse texto trata-se de uma transcrição fiel e detalhada de fatos e eventos verídicos. Portanto, qualquer mínima ou mesmo quase imperceptível semelhança com a realidade deve ser considerada uma incrível e indissociável coincidência. Uma das facetas da verdade.

PH.

21/01/2011

Setor Bancário Sul


"Lá se foram horas de conversa afiada. Estamos nós, jovens provenientes de várias etnias e destinos, a divagar sobre tudo. O ponto de ligação entre os presentes é o Banco do Brasil. Raras são as pessoas como eu, que não trabalham em nenhum banco, mas dedicam uma parte do seu tempo para sentar no boteco do Chaguinha. Neste ambiente está Brasília, que, na perspectiva do sonho do seu criador, é vislumbrada. Um colosso de concreto com traços modernos. Aqui eu me sinto setorizado, pegando emprestado o nome oficial da área: Setor Bancário Sul (SBS). Eu poderia encontrar paz e sossego em bar convencional, mas estou com pressa de dizer aonde eu quero chegar. Daqui, desse conjunto de mesas e cadeiras, um (talvez três) isopor(es), churrasqueira em brasa, olho para a frente e vejo ela: a Kombi! A Kombi até mereceria um capítulo à parte. Está acima da Mistery Machine do Scooby-Doo, mas abaixo da Caravana Rolidei do Bye-Bye Brasil. Somos reféns daquela Kombi, de onde sempre esperamos sair alguma novidade. Reza a lenda que daquele fantástico veículo são colhidos temperos e preparada todas a carnes. Particularidades envoltas em mistérios como chamariz econômico. Porque, como toda Kombi utilizada para fins comerciais em Brasília (por exemplo, a do mecânico), esta anda. Ela se utiliza da força do próprio motor para ir e vir livremente. Se meu Fusca falasse, aquela Kombi nos levaria até a Bahia. E lá, noite e dia, se tornaria objeto de culto.

Voltando ao sonho do criador. A filha de Lúcio Costa falou com propriedade que se Brasília fosse um filme, Niemeyer seria o ator principal e Lúcio o diretor e roterista. Diante daquele conjunto de cadeiras eu vislumbro e percebo a leveza do concreto no céu de Brasília. Concreto este que estamos corroendo. O banheiro comunitário nunca é inaugurado, só as mulheres entram nos prédios vizinhos, portanto a nossa acidez penetra pelos poros do concreto até atingir o aço, provocando a corrosão das estruturas. A nossa Revolução silenciosa se perpetuará. Tenho medo que, de tanto mijar, eu destrua o endereço de trabalho dos meus amigos. Mas eu não quero saber de mictórios."

Pedro

Hino do Valdeci


(emprestando o sensacionismo de Alberto Caieiro)

E, por não estarmos lá ou acolá Sim, sim, estamos nós, de volta aqui Vivemos para beber, sorver e tragar Ei-nos no lar, no churrasquinho do Valdeci

Nós somos da diretoria, bebemos todos os dias
Mas só à noite, desde cedo até as horas tardias E buscamos o enlevo, nós bebemos sem medo Pois se no início era o verbo, agora são latinhas vazias

E, por não estarmos lá ou acolá Sim, sim, estamos nós, de volta aqui. Vivemos para beber, sorver e tragar. Ei-nos no lar, no churrasquinho do Valdeci

Um por todos e todos por um, guardadores do rebanho. Bebemos, sorvemos e tragamos da confraria os sonhos. Passeando nos campos da Praça do cebolão, no Valdeco. Colhemos as alegrias e as cervejas que estão por perto , E, por não estarmos lá ou acolá
Sim, sim, estamos nós, de volta aqui
Vivemos para beber, sorver e tragar
Ei-nos no lar, no churrasquinho do Valdeci

E bebemos intensos, imensos, de coração
Altivos, garbosos e elegantes, sempre com um copo na mão
Que as certezas estão guardadas em várias garrafas de cervejas
E no Valdeci a explicação do mistério do universo sobeja.

PH

20/01/11

20/01/2011

Papalvo anoitecer de luar

E a noite vai, o imenso luar quase que contempla os poucos que ainda restam, JB, MARCELO, PH, PEDRO E EMERSON submessos em um encanto desencantado. E o que nos resta depois do churrasquinho do Bigode? O que resta após nossas cervejas? Apenas esse enredo ininterrupto e eterno de instantes? "É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso. Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se. E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher." Então deve ser só isso. Nos resta apenas a lembrança consoladora de um velho poema de Baudelaire, apenas isso.

JB

18/01/2011

Reminiscências do Valdeci ou Nós que nos embriagávamos tanto*

E porque por ali desfilássemos as nossas fugazes insanidades, sabíamos que aquele era um espaço sagrado ao qual devíamos prestar a adequada liturgia. Assim, penitentes, passávamos noite após noite, hora após hora reunidos, crentes no poder miraculoso, pelo menos momentaneamente, da cerveja e da miríade de assuntos que ela enseja soltos ao vento da Praça do Cebolão, o local de residência do Valdeci ou do Churrasquinho do Bigode, as duas alcunhas do estabelecimento. Ali, sob aquela marquise, multidões de revelações, de reconhecimentos, de devaneios, de imprecisões, de vitórias e de receios vivemos. E achamo-nos todos, nalgum momento, em um ponto de convergência. E, claro, com as bebidas. E com urgência.

E dizem que as grandes ideias estão assim, dispersas pelo ar aguardando alguma sensibilidade que as colha. Seria esse o Jardim das Descobertas. Então, nós, da Diretoria, somos os excelsos descobridores, pois que já concluímos que toda conclusão é provisória. E a sua duração se dá em noites e em presenças no Valdeco, onde juntamos as nossas histórias e testemunhamos de nós e de alguns outros os ecos. E a cerveja é tanta, e a sede tamanha, que ali nenhum mal nos arranha, e poderosos bebemos. Por certo que essa beleza em potência é anímica, já que monetariamente nos reconhecemos em coitados, mas nada que a refulgente e redentora revolução não vá sanar! Nada temos a temer, a não ser os nossos grilhões! Embaixo do calçamento está a praia! Liberdade, Igualdade e Fraternidade! Portanto, apenas aguardamos, pacientes, revolucionários, no Valdeci, o momento dela, La Revolución vingar. E, bebemos...

E como todo o ritual que se preze ostenta suas oferendas, de uns tempos para cá, por assim dizer, nos profissionalizamos. Dessa maneira, além dos churrasquinhos servidos, o Adelson passou a trazer alguns quitutes para que provemos. Animais exóticos, seres de outras esferas, habitantes duma floresta longínqua inda não conquistada. Ou gatos e “skatistas” que somem repentinamente das cercanias. As versões são várias. Mas, bem sabemos, essas variantes são próprias das mitologias. E, quando percebemos, em meio às bebidas, comemos. Pacas, tatus, jacarés, galinhas, porcos, mocotós, enguias... Não, não. Desculpem-me. Enguias, não. Pelos menos, eu creio. E, bebemos, que a carne tem que descer...

E mesmo as cervejas se multiplicaram. Já não temos tão somente Skol e Antarctica. Dispomos, já de um tempo, de Heineken, Stela Artois, Cerpa, Therezópolis e Brahma. E, óbvio, elas se espalharam entre os presentes, sendo da Diretoria ou não, já que o Bigode quer é faturar. Bigode ou Valdeco, Valdeco ou Bigode, dois que residem no mesmo um. E onde se pode fiar. Ou seja, ultrapassa o boteco já se tornando um lar!

Essa a nossa teogonia, senhores e senhoras. Esse o local das nossas alegrias e dores, todas enfeitadas pelo passar das horas. Ali nos fazemos nós pela noite que se alonga e que se demora. É o nosso lugar de olhar o mundo e de rir do absurdo. E de aguardar o anúncio da revolução em seu grito retumbante e mudo. Por isso tudo, sonhemos. Continuamos sonhando. E, bebemos.

17/11/01

*Esse texto trata-se de uma transcrição fiel e detalhada de fatos e eventos verídicos. Portanto, qualquer mínima ou mesmo quase imperceptível semelhança com a realidade deve ser considerada uma incrível e indissociável coincidência. Uma das facetas da verdade.

PH.