21/01/2011

Setor Bancário Sul


"Lá se foram horas de conversa afiada. Estamos nós, jovens provenientes de várias etnias e destinos, a divagar sobre tudo. O ponto de ligação entre os presentes é o Banco do Brasil. Raras são as pessoas como eu, que não trabalham em nenhum banco, mas dedicam uma parte do seu tempo para sentar no boteco do Chaguinha. Neste ambiente está Brasília, que, na perspectiva do sonho do seu criador, é vislumbrada. Um colosso de concreto com traços modernos. Aqui eu me sinto setorizado, pegando emprestado o nome oficial da área: Setor Bancário Sul (SBS). Eu poderia encontrar paz e sossego em bar convencional, mas estou com pressa de dizer aonde eu quero chegar. Daqui, desse conjunto de mesas e cadeiras, um (talvez três) isopor(es), churrasqueira em brasa, olho para a frente e vejo ela: a Kombi! A Kombi até mereceria um capítulo à parte. Está acima da Mistery Machine do Scooby-Doo, mas abaixo da Caravana Rolidei do Bye-Bye Brasil. Somos reféns daquela Kombi, de onde sempre esperamos sair alguma novidade. Reza a lenda que daquele fantástico veículo são colhidos temperos e preparada todas a carnes. Particularidades envoltas em mistérios como chamariz econômico. Porque, como toda Kombi utilizada para fins comerciais em Brasília (por exemplo, a do mecânico), esta anda. Ela se utiliza da força do próprio motor para ir e vir livremente. Se meu Fusca falasse, aquela Kombi nos levaria até a Bahia. E lá, noite e dia, se tornaria objeto de culto.

Voltando ao sonho do criador. A filha de Lúcio Costa falou com propriedade que se Brasília fosse um filme, Niemeyer seria o ator principal e Lúcio o diretor e roterista. Diante daquele conjunto de cadeiras eu vislumbro e percebo a leveza do concreto no céu de Brasília. Concreto este que estamos corroendo. O banheiro comunitário nunca é inaugurado, só as mulheres entram nos prédios vizinhos, portanto a nossa acidez penetra pelos poros do concreto até atingir o aço, provocando a corrosão das estruturas. A nossa Revolução silenciosa se perpetuará. Tenho medo que, de tanto mijar, eu destrua o endereço de trabalho dos meus amigos. Mas eu não quero saber de mictórios."

Pedro

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