11/02/2011

O violeiro (ou Humano, demasiadamente humano)


Então, foi assim. Eu, o Marcelo, o Louriva e o JB com as nobres presenças do Valdeco e do Adelson em nossa mesa. As latinhas se prodigalizando... Coisa de pagamento de aposta entre o JB e o Louriva envolvendo o clássico carioca Fluminense x Botafogo. Vitória do Louriva. Vitória do Botafogo. O Emerson e a Fernanda haviam nos abandonado momentos antes por motivos distintos. O Adelson também partiu um pouco depois. A noite seguia o seu curso de provedora das almas incautas perdidas ou desgarradas desde a manjedoura.

A luz amarelada de sob a marquise nos vestindo a todos, o volume das conversas, a generosidade do gênero humano acontecendo, o tempo em suspensão. Lá fora, apenas a cascata de carros consumindo a avenida.

Buenas, eis que de repente, nada mais que de repente, invade nossa esfera O Violeiro. E, postado no campo gravitacional de nossa mesa, imponente do alto da certeza de sua verve de menestrel, de súbito olha-nos para, logo em seguida, entoar várias e várias melodias. E tanto e com tamanho ardor que uma moça loira, alta, vinda da mesa ao lado, toma-se de comoções. Ela está francamente enlevada com aquele que empunha o violão. E ele, em uma torrente inesgotável, perfila uma sensível seleção. São músicas do cancioneiro nosso espalhado pelo país inteiro e ali declamado, naquele instante, na comunhão que somente o bar dá, essa catedral mundana, profana e profundamente humana. Esse espaço donde tudo emana e a vida, ornada e refulgida, reclama.

Como que em um transe, imediatamente estávamos em festa. O Marcelo, nosso músico profissional, guitarrista virtuose, deixou-se ao deleite do entusiasmo musical de nosso novo amigo, inclusive batucando na borda da mesa. Eu, de igual modo empolgado, tamborilava no banco plástico em que estava sentado. Louriva cantarolava algumas das músicas e o JB, em um ataque peripatético, tirava fotos e mais fotos de todos os ângulos da turma do Churrasquinho. E o Valdeco, o Valdeco, o nosso bigodudo anfitrião, inclusive dançou! E olha que não era Rock’n’roll... Depois, mais adiante, até que rolou.

Recordo-me de Almir Sater, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Legião Urbana, Clara Nunes, Ana Carolina e Seu Jorge e o indefectível Bob Dylan by Axel Rose... Humano, claro. E de tal maneira que me permiti pensar que todos nós, a partir dali, para o mesmo lugar rumamos. Um lugar postado para além da consciência prévia, distante do disfarce cotidiano, estrangeiro ao enfado que nos fustiga e causa danos. O lugar da fruição espontânea, da mais que merecida vitória em distração, próximo e sedutor aos olhos e dentro do profundo coração.

E a história já estaria completa, afora o fato de um dos guardadores de carros nos visitar e à mesa sentar e pedir o violão e umas modas suas, voz mais grave e baixa, tocar. Recobrávamos, então, a entesourada espontaneidade. Reison chegou-se. Mimi também. E, como por aqui se diz, estávamos no mesmo “trem”. E pensei que em meio a tanto mal é mais do que dever nosso resgatar o bem, humanos que somos e estamos. Demasiados, por vezes, concedo, mas comovedoramente humanos.

PH
10/02/11

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