21/02/2011

DESABAFO CARNAVALESCO

É sexta-feira. Restam os últimos dez minutos de uma semana exaustiva de trabalho. Recebo uma mensagem de texto: “Chagas”. Imediatamente, tudo estava transformado. Não retornaria para casa com aquele vazio de todos os outros dias. Havia algo para fazer que iria me ajudar no esquecimento de expedientes tão repetitivos e maçantes. Respondo prontamente: “Ok”. E a missão se inicia. Não se pode pensar muito: é dever. Peguei a via mais rápida e atravessei com cautela e determinação uma parte da cidade, para enfim chegar ao lugar onde encontraria meus queridos.

Porém desta vez, ao invés da alegria de sempre, fui surpreendida pela decepção que assolava aos que se auto-intitulam: Diretoria. Até eu, que não ouso tal nomenclatura, me senti contagiada por aquele sentimento de frustração.
O reduto de meus filósofos-etílicos fora invadido por pessoas que em absolutamente nada, se assemelham aos que ali freqüentam. Somente após quinze minutos percorridos, pude encontrar em meio àqueles inúmeros desconhecidos, um dos meus queridos “diretores”. E de súbito me veio a frase, a única que habitava meu pensamento: “Joãozinho, que porra é essa???”.

Perdoem-me pela expressão chula, mas era exatamente o que expressava meu sentimento quando percebi que o Churrasquinho do Bigode havia se transformado num baile de Carnaval.

Rei Momo, mulatas, pandeiros, tamborins e surdos, estava tudo ali, com direito a palco, iluminação e gente, muita gente. Em meio a esse cenário, eu e JB nos encontrávamos renegados a um pequeno espaço de dois metros quadrados, praticamente em cima daquele quiosque que meus queridos chamam, carinhosamente, de banheiro.
Não havia espaço para nós que sempre tivemos nossa mesa VIP! As nossas cadeiras cativas, sob a idolatrada Marquise, eram disputadas por uns que certamente jamais retornarão. Fomos traídos.

Nossa melancolia, dramática, tentava se expressar acima dos 150 decibéis do samba gritado. Queríamos nos manifestar, dizer que estávamos ali, mas nem Bigode, nem Adelson e muito menos Chaguinha nos dava atenção. A clientela carnavalesca estava se deliciando de nossas cervejas e de nossos churrasquinhos! Tratava-se de um insulto.
Mas o que fazer? Não nos cabe mudar o mundo. A Marquise não suportaria nos ver fazer algo que não fossem nossas reflexões noturnas regadas a cevada. Porém, neste dia, ela não nos acolheu como de costume. E após algumas rápidas e frágeis tentativas frustradas de estabelecer nossas conversas, me dei por vencida.

Pela primeira vez, deixei o lugar antes do Bigode me expulsar recolhendo as cadeiras. Fui embora sem a despedida afetuosa de todos. Enquanto caminhava até o carro, decepcionada, busquei na memória qualquer lugar que, naquele momento, pudesse substituir o “Chagas”. Mas, sem outra opção, fui para casa.

RAQUEL.

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