01/02/2011

Devassos, libertinos, libertários, fesceninos...

(em memória dos panfletos da Revolução)

Devassos, libertinos, libertários, fesceninos somos nós! Nós, estes meninos que divagam noite após noite em um ardor divino, em um comovente escrutínio de liberdade de
sabermos o que somos, de desconhecermos para onde vamos e de saborearmos o que sorvemos e absorvemos e tomamos. Formadores de um império, somos descendentes
dos romanos. A Praça do Cebolão conquistamos e as platitudes desafiamos, sem medos, sem receios e, mesmo, sem certezas. Pois, senhoras e senhores, possuímos nossos credos, orgulhamo-nos de nossos anseios e entornamos nossas cervejas!

Somos o que somos e o que seremos adiante se descortinará. Mas, por enquanto, sentemo-nos lado a lado, em memória da legendária távola, e os banquetes de Adelson degustemos. E entre um e outro pedaço arrancado na volúpia dos dentes, consideremos, entrementes, os que se alienam na banalidade cotidiana. Um brinde a eles ergamos e deixemo-los lá, na indigência de ano após ano e na eterna promessa que a quase todos seduz e engana. Não nos interessam os tesouros mundanos, a coisa reles e mesquinha que se descortina na esquina como uma flor sozinha. Buscamos o ar excelso das cervejas do Chaguinha e dos bichos mortos do Adelson!

Devassos, libertinos, libertários, fesceninos, proletários somos nós! E não nos importamos de ficarmos sós, já que compreendemos que os príncipes são assim. A solidão da coragem nos oferta esse fim. A revolução adorna as nossas retinas, impele-nos à comunhão com o universo, seres plenos, embriagados de cervejas e de versos, o coração amalgamado. E quem nos condenará por fazermos de todo dia um evento sagrado? E de toda noite uma redenção do “leite” derramado? Quem se levantará diante de nós que não derrubemos com nossas virtudes, com nossos atos, com nossas ilicitudes, com nossos bafos? Os áulicos conspiram, mas nós, alcoólicos, o hálito da inevitável vitória respiramos!

E compreendamos, nobres convivas, que nada para além se leva desta vida. Talvez, quiçá, no último momento tenhamos a clarividência total, aquilo que devolva, enfim, um sentido a tudo. Entretanto, então, já estaremos quase mortos, e mudos. E, quem sabe, se estenda o braço na tentativa de acariciar a explicação posta no espaço, o que sempre fora óbvio e perdido no absurdo. E aí, nesse momento, depostos serão os escudos e silenciados os desesperos e reunidas as premências... Por isso, bebamos com urgência!

Devassos, libertinos, libertários, fesceninos, multitudinários somos nós, multiplicados que nos fazemos pelos copos que propagam nossa voz! Sob a marquise e por sobre os danos, nós, arrebatados que somos, no Valdeci nos encontramos. E desconhecemos depravação maior do que a violência da renúncia ao sonho. Nós, oníricos, entre os feixes da realidade nos colocamos. E por ela bebemos. Bebamos!

PH - 01/02/11

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