29/04/2011

Por uma ilusão à toa

(aos Caíque, JB e Emerson)

E porque estivéssemos por ali, quietos e calados, os copos com cerveja em diferentes níveis, refundamos o tempo. Não éramos tantos, nem metade da habitual turma, mas um bom extrato dos que em outras ocasiões preenchiam aquele pequeno pedaço de mundo em busca da criação de novas mitologias, perseguindo os sonhos dispersos que à noite saem em manada, distraídos, para ornar os espaços protegidos pela escuridão. Assim, possuíamos o nosso tempo, uma cunha no maior, realidade imposta pelos desejos que vibravam em uníssono. Um gole aqui, mais um acolá e a memória dos acontecimentos.

Dentro em pouco, alcançaríamos o estágio das emanações. Até lá, entretanto, diversos assuntos se impunham. Filosoficamente, não rechaçávamos nenhum em nenhuma abordagem, apenas que todas, por dever do destino, regadas ao fugaz e gelado líquido alcoólico.
E a única certeza de que dispúnhamos, de que a vida é isso mesmo, um pedaço colado ao outro, uma colcha de retalhos, de episódios, de sucessões que nem sempre guiamos. Então, estar ali era, tão-somente, tomarmos nossa cavalgadura à unha, domarmos o monstro ancestral do cotidiano, infundirmos lirismo e inocência ao que em redor, não raro, era infeliz indecência. E sequer sabíamos disso tudo. Éramos, de fato, a cada noite, a cada incursão, a cada aventura, neófitos, incautos, estrangeiros. E isso, porque a vida está em constante e irrefreável inauguração.
Libertos e libertários (alguns, inclusive, libertinos), esse o nosso estado, a nossa empunhadura. Uma ordem dentro da insana desordem. Uma sincera manifestação diante dos que só crêem no que tocam com as mãos. Nós estávamos além. E não por mal ou por bem. Apenas, por vocação e, concedamos, alguma provocação. Afinal, esse o nosso charme e o nosso álibi. E, adiante, a fronteira.

E, se tudo é ilusão, quem somos nós para desautorizar o coração?

28/04/11

PH

Nenhum comentário: