24/08/2011

Oração à Nossa Senhora das Marquises

Dentro do projeto do Plano Piloto de Brasília, elaborado por Lúcio Costa em 1957, havia uma área destinada à Catedral da cidade, localizada na Esplanada, "numa praça autônoma disposta lateralmente, não só por questão de protocolo, uma vez que a Igreja é separada do Estado, como por uma questão de escala, tendo-se em vista valorizar o monumento, e ainda, principalmente, por outra razão de ordem arquitetônica: a perspectiva de conjunto da esplanada deve prosseguir desimpedida até além da plataforma onde os dois eixos urbanísticos se cruzam".

Leigos transeuntes turísticos e historiadores de apressadas observações superficiais (e supérfluas) enxergam apenas a bela Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, situada à Quadra 601 da L2 Sul, como sendo a plena execução dos sonhos e devaneios do arquiteto, urbanista e professor Lúcio Marçal Ferreira Ribeiro Lima Costa nesse trecho do seu projeto. Mas observemos melhor, irmãos, a visão profética ampliada do mestre, que tinha como axioma de vida: "não sou capitalista nem socialista, não sou religioso nem ateu"...

Vocês conhecem um lugar onde a Igreja é separada do Estado, e também é separada de todos os preconceitos, onde não se precisa saber onde exatamente cada um trabalha, se é que trabalha, onde arranjou aquele dinheiro pro churrasquinho ou pro 88, quanto deve ainda pro Juca, uma Igreja que, por uma questão de escala, desceu dos céus em forma de monolito, uma fortaleza suspensa sobre a galeria das almas que alimentam o metrô, destinada desde os primórdios a ressuscitar uma praça esquecida no Setor Bancário Sul,autônoma e disposta lateralmente aos eixos, aos pontos de táxi, às paradas do ônibus, às paradas mil, ao Calaf, à Banca do Lourenço, à Casa de São Paulo... Nossa Igreja, senhoras e senhores, valoriza o monumento, abraça sol e lua e estrelas, estações espaciais, artistas, sindicalistas e alienistas. Aqui o carro fica lá fora, a perspectiva de conjunto da esplanada do Cebolão prossegue desimpedida, livre para nossas mesas, cadeiras, nossa sala de congregação, onde alimentamos a nossa fé inabalábel de dias sempre melhores, amanhã e, por que não, hoje à noite, depois do expediente.

Irmanados seguiremos, pois, em nossa procissão protegidos, não só por questão de protocolo, mas por amor àquilo que cremos, à nossa liberdade. Saudemos nossa Catedral Metropolitana de Nossa Senhora das Marquises!

Emerson Aprile.

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