06/07/2011

Diário de “Borda”

Porto Alegre, 06 de julho de 2011.
Relato 1.

Inverno. Hoje, como ontem, o dia recebeu-me com 0ºC. E anteontem, com 2ºC. E no dia anterior, com 4ºC. Confesso que estava um tanto desacostumado. Diminuí meus exercícios matutinos para apenas 1.500 metros na piscina descoberta, além da corrida e da bicicleta, é claro. Inda bem que há sol, mesmo que o poder do astro maior esteja mitigado. Penso nos companheiros da Marquise e em suas reações. Minha expedição segue.

Aqui, os nativos se abrigam e se escondem em blusões e em botas altas e em espessas mantas e em pesados casacos e em ponchos e em capas e em luvas variadas e em chapéus e em gorros e em toucas e em boinas. É tanta roupa que, por vezes, vê-se tão-somente formas passando na rua. Que penso: “Lá embaixo haverá alguém.” E as crianças, coitadas, tão “entrouxadas” que se movem como robozinhos. Entretanto, há uma graça nisso tudo. E um charme, claro. O vinho, por exemplo, bebida de reputação tão ilibada, torna-se ainda mais imprescindível, reiterando a sua e a nossa nobreza. Um aquecimento da beleza. Nisso, nada posso reclamar.

Os aldeões fabricam os melhores exemplares do álcool de uva do país. Então, ponho-me a beber. Para, por assim dizer, “me enturmar” e ser feliz. E tenho tido sucesso no intento. Até agora, pelo menos. Bebo bem. E tenho amigos, também. E sou profissional. Tudo pela solidariedade e pela confraternização. E, dizem, o vinho é bom para o coração. Ah, os eflúvios...

Outro traço marcante nos autóctones é o arraigado hábito da cerveja gelada ao relento. Mesmo nestes inóspitos tempos. Os bares ao longo das vias sediam esses eventos. Estranha-se um pouco no início, por certo, mas após algumas garrafas, está-se “em casa”. E “bem certo”, em outra expressão local. E o normal é mais e mais sorver o suco de cevada que, por aqui, guarda uma especial assim batizada: Polar. Não sei se homenageia a aconchegante atmosfera do lugar, mas é uma bira “mui buena”, como eles dizem, de se tomar. E já que não sou de fazer feio e é preciso “me enturmar”, bebo. E assim descrevo este meu vagar. E tanto, que ponho-me a considerar: “Como seria que os bravos & heróicos convivas da Marquise se comportariam nesta terra onde impera um veloz e gélido vento no ar?”


E, de igual forma, também notabilizam-se os aborígenes sulistas, mais precisamente os Gaúchos, pelo extremado gosto por carne. Já desfrutei de algumas edições desse seu peculiar ritual desde que por aqui aportei. Chamam-no Churrasco. Nos que fui, os animais abatidos são preparados em estruturas de pedra nominadas churrasqueiras. Uma espécie bem mais precária da sofisticada Nouvelle Cuisine do Churrasquinho do Valdeco (ou Valdeci ou Bigode). Eles ainda têm muito o que aprender, mas o que fazer? Talvez um dia o Valdeco aporte por aqui e derrame-lhes o seu douto saber. Porém, até lá sigo eu a escrever sobre estas minhas explorações, pois “Navegar é preciso, viver não é preciso”...

PH

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